A toxina botulínica é uma alternativa minimamente invasiva para tratar a fissura anal crônica, especialmente quando pomadas e medidas conservadoras falham. Ao relaxar temporariamente o esfíncter anal interno, diminui a dor, melhora o fluxo sanguíneo local e favorece a cicatrização. Em 2025, segue como opção segura, ambulatorial e com baixo risco de incontinência quando bem indicada.

O que é fissura anal e por que ela se torna crônica?
Fissura anal é um corte doloroso no revestimento do ânus, geralmente causado por evacuações duras, esforço ou diarreia. Quando persiste por mais de 6–8 semanas, vira crônica, com hipertonia do esfíncter interno, dor em “facada” e sangramento em papel higiênico. O espasmo reduz a irrigação sanguínea e bloqueia a cicatrização.
Na fase crônica, a borda da fissura apresenta sinais típicos (prega sentinela/papila hipertrófica) e dor pós-evacuação prolongada. Há um círculo vicioso: dor → contração do esfíncter interno → isquemia → não cicatriza → mais dor. O tratamento objetiva quebrar esse ciclo, reduzindo o tônus e promovendo cicatrização.

Como a toxina botulínica age na fissura anal?
A toxina botulínica relaxa o esfíncter anal interno, reduzindo o espasmo por 2–4 meses. Com o músculo relaxado, diminui a dor, aumenta o fluxo sanguíneo e a fissura tem ambiente favorável para fechar. O efeito é local e reversível.
O alvo é funcional: relaxar sem cortar. O pico de ação costuma ocorrer entre 2-3 semanas. Esse “tempo-terapêutico” é suficiente para uma fissura crônica cicatrizar em boa parte dos pacientes, sobretudo quando combinado a fibras, água, analgesia simples e hábitos evacuatórios saudáveis.
Quando indicar toxina botulínica para fissura anal?
A toxina pode ser indicada como primeira linha de tratamento e também após falha do tratamento clínico (fibras, banhos mornos, pomadas como diltiazem/nitro), em pacientes com dor intensa e hipertonia esfincteriana, ou quando se deseja evitar cirurgia. É opção valiosa em mulheres jovens, puérperas, pacientes com risco de incontinência e em quem prefere abordagem reversível.
Casos agudos respondem bem a medidas conservadoras. Já crônicos, especialmente com dor refratária, podem se beneficiar do botox. É útil como ponte terapêutica antes de uma cirurgia ou como alternativa definitiva em quem cicatriza após 1–2 aplicações. A decisão é individualizada, conforme idade, sintomas, hábitos intestinais e comorbidades.
Como é feito o procedimento? Dói? Precisa de internação?
É um procedimento ambulatorial, rápido, que pode ser feito sob anestesia tópica ou sob anestesia local e/ou sedação leve. O médico injeta pequenas alíquotas da toxina em pontos do esfíncter interno ou no espaço interesfincteriano, guiado por anatomia. A dor é geralmente bem tolerada. O paciente vai para casa no mesmo dia com orientações simples de higiene e evacuação.
- Avaliação clínica e exclusão de outras causas de dor anorretal.
- explicação dos efeitos/limitações.
- injeções fracionadas (por exemplo, 2–4 pontos)ou em ponto único, definido caso a caso
- Observação breve e alta.
- Retorno programado (2–4 semanas e 8–12 semanas) para avaliar cicatrização e sintomas.
Qual dose e quais pontos são usados com mais frequência?
Protocolos variam bastante e são definidos conforme experiência do cirurgião, mas a dose costuma variar de 20–100 unidades de toxina botulínica tipo A.
As aplicacões podem acontecer diretamente no esfíncter interno ou no espaço interesfincteriano.
Podem ser divididas em 2–4 pontos ou tambem em um único ponto
Há diferentes esquemas (p. ex., 20–30 U em 2 pontos; 50 U em 2–4 pontos; 80–100 U distribuídas). A lógica é reduzir hipertonia sem excessos que aumentem risco de incontinência transitória.
Pode ser feita uma reaplicação em até 30 dias caso não tenha atingido o relaxamento ideal.
Após esse período é necessário aguardar 3 meses para reaplicação caso a fissura não tenha cicatrizado
É eficaz? Como se compara à esfinterotomia lateral interna (ELI)?
A toxina botulínica cicatriza muitas fissuras crônicas (taxas em torno de 60–80% em séries), com baixo risco de incontinência e possibilidade de repetição. A ELI tem taxas de cura mais altas e duradouras, porém envolve corte esfincteriano e risco maior, de incontinência, sobretudo a gases.
Tabela comparativa:
Tratamento | Vantagens | Limitações | Indicados típicos |
Toxina botulínica | Minimamente invasiva, reversível, baixo risco de incontinência, ambulatorial | Pode exigir 2ª aplicação; recidivas possíveis | Jovens, puérperas, risco de incontinência, preferência por opção não cirúrgica |
ELI (cirurgia) | Maior taxa de cura e durabilidade | Procedimento operatório, risco de incontinência | Fissuras muito refratárias, múltiplas falhas, dor grave persistente |
Pomadas (diltiazem/nitro) | Acesso fácil, baixo custo | Cefaleia com nitro, adesão irregular, menor taxa de cura em crônicos | Primeira linha em casos agudos/subagudos |
Quais são os riscos e efeitos colaterais?
Efeitos costumam ser leves e transitórios: dor no local, pequeno sangramento, hematoma, sensação de “força reduzida” ao evacuar. Raramente, incontinência leve a gases por curto período. Infecção é incomum. Reações sistêmicas são excepcionais. A técnica correta e a seleção adequada do paciente minimizam riscos.
A principal preocupação do paciente é “perder o controle” evacuatório; com doses moderadas e boa técnica, esse risco é baixo e, quando ocorre, tende a ser temporário. Em dor persistente, investiga-se constipação, espasmo residual ou diagnósticos diferenciais (fissura atípica, doença inflamatória, infecção).
Como me preparo para a aplicação?
Geralmente basta higiene local, jejum curto se houver sedação e ajustar anticoagulantes com o médico. Traga seus exames e lista de medicamentos. Na véspera, foque em fibras e água para fezes macias. Organize retorno para casa e evite esforços no dia do procedimento.
Checklist:
- Revisar alergias e medicamentos (anticoagulantes/antiagregantes).
- Psyllium e hidratação já nos dias anteriores.
- Banho no dia e roupa confortável.
- Tire dúvidas sobre sinais de alerta e agenda de retorno.
Como é a recuperação? O que esperar nas primeiras semanas?
A dor costuma reduzir progressivamente nas primeiras 1–2 semanas, com melhora do espasmo e da evacuação. Mantenha fezes macias, higiene suave e analgésicos simples se necessário. A cicatrização plena, quando ocorre, é observada em até 8–12 semanas. Atividades leves retornam rapidamente, conforme conforto.
- Evacuação sem esforço: fibras (20–30 g/dia) + água ao longo do dia.
- Higiene com água morna/lenços sem álcool; secar sem fricção.
- Banho de assento morno para conforto, se indicado.
- Atividades: retomar leves em 24–72 h; evitar bike/corrida até dor cessar.
- Sinais de alerta: febre, secreção purulenta, sangramento importante ou dor desproporcional.
Quando repetir a toxina botulínica? E se não funcionar?
Se houver melhora parcial sem cicatrização completa, uma segunda aplicação em até 30 dias pode ser realizada.
Em falha persistente, reavalia-se diagnóstico, adesão aos cuidados e considera-se cirurgia (ELI). Ajustes dietéticos e controle de constipação/diarreia são indispensáveis para manter o resultado.
A decisão combina dor residual, aspecto da fissura, tônus esfincteriano e preferências do paciente. Alguns pacientes “precisam do tempo” de duas aplicações para romper o ciclo de dor-espasmo-isquemia.
Quem não deve usar toxina botulínica para fissura?
Contraindicações relativas incluem infecção ativa, doenças neuromusculares (como miastenia gravis), gravidez sem consenso obstétrico, alergia conhecida à toxina ou diluentes e uso de certos antibióticos aminoglicosídeos. Em condições de coagulação alterada, avalia-se risco-benefício com o especialista.
Pacientes imunossuprimidos ou com doenças anorretais associadas (abscesso, doença de Crohn ativa) exigem plano específico. Em gestantes, prioriza-se manejo conservador; intervenções dependem de avaliação multiprofissional.
Toxina botulínica ou pomadas de diltiazem/nitroglicerina: qual escolher?
Pomadas vasodilatadoras são primeira linha em muitos casos e funcionam bem para fissuras recentes. A toxina botulínica é útil quando as pomadas falham, causam efeitos colaterais (p. ex., cefaleia com nitro) ou quando se deseja uma solução minimamente invasiva com maior chance de romper o espasmo esfincteriano.
Estudos comparativos sugerem taxas de cicatrização superiores da ELI e intermediárias para botox, com pomadas como alternativa inicial. A escolha leva em conta dor, tempo de sintomas, adesão e perfil de risco de incontinência.
O tratamento muda para públicos específicos (pós-parto, idosos, atletas)?
Em puérperas e mulheres jovens, a toxina botulínica é valorizada por reduzir risco de incontinência. Em idosos, individualiza-se pela comorbidade e tônus basal. Em atletas, prioriza-se retorno rápido e hábitos intestinais livres de esforço. Em todos, o pilar é manter fezes macias e higiene adequada.
A história obstétrica, cirurgias pélvicas prévias e queixas de escape a gases orientam a preferência por terapias não seccionantes. Em idosos, atenção a polifarmácia e constipação. Para atletas, o plano de treino volta gradualmente, respeitando dor e cicatrização.
Há impacto na continência? Posso “perder gases”?
Pode ocorrer incontinência leve e transitória a gases, geralmente nas primeiras semanas, melhorando conforme o efeito da toxina diminui. Incontinência a fezes é rara em protocolos moderados. A ELI tem risco maior de incontinência tardia, ainda que baixo em mãos experientes.
Escalas subjetivas e manometria podem auxiliar no seguimento de casos selecionados. A orientação prévia clara sobre riscos temporários ajuda a reduzir ansiedade e melhora a adesão ao tratamento.
Custos, cobertura e documentação
A cobertura por planos varia; quando há indicação clínica robusta (dor intensa, falha conservadora), a justificativa do especialista fortalece o pedido. Custos dependem da dose, do ambiente (consultório x hospital-dia) e honorários. Orçamentos transparentes e consentimento esclarecido evitam surpresas.
Documente tempo de sintomas, tentativas prévias, intensidade de dor e impacto funcional. Em alguns casos, laudos complementares (manometria, colonoscopia por outras razões) podem compor o dossiê clínico, embora a fissura seja diagnóstico clínico.
Dicas de prevenção e manutenção após a cicatrização
Priorize rotina intestinal previsível: fibras, água, atividade física e evitar retardar a vontade de evacuar. Reduza esforço, use apoio para os pés, evite papel seco vigoroso e trate prontamente episódios de constipação ou diarreia. Esses hábitos reduzem recidiva e mantêm o conforto a longo prazo.
Lista prática:
- Fibras alimentares + suplementação (psyllium) quando necessário.
- Hidratação fracionada ao dia.
- Técnica evacuatória sem esforço (apoio de pés).
- Tratamento rápido de crises intestinais.
- Lubrificação local eventual em evacuações difíceis (se indicada).
FAQ
1) Toxina botulínica cura fissura anal para sempre?
Muitos casos cicatrizam após 1–2 aplicações. Porém, recidivas são possíveis se voltarem constipação, esforço e hábitos desfavoráveis. A ELI tem taxas de cura mais duradouras.
2) Quanto tempo demora para melhorar a dor?
Geralmente há alívio progressivo nas primeiras 1–2 semanas, com benefício pleno em 4–8 semanas.
3) Posso trabalhar no dia seguinte?
Pode trabalhar normalmente. Necessário evitar exercício físico nas primeiras 24 horas após a aplicação
4) Preciso suspender anticoagulantes?
Nao é indicada aplicação em uso de anticoagulantes
5) Posso fazer na gravidez?
A aplicação está contraindicada na gestação
6) Dá para repetir se não cicatrizar?
Sim. Uma segunda aplicação em até 30 dias. Após isso é necessário aguardar 3 meses.
7) Quais cuidados no banheiro?
Fezes macias, higiene suave com água morna/lenços sem álcool e evitar papel seco ou fricção.
8) Posso ter incontinência?
Leve e transitória a gases pode ocorrer, apesar de muito rara, depende da experiência do proctologista. Incontinência relevante é rara com doses moderadas e técnica correta.
9) Precisa de exames?
O diagnóstico é clínico. Exames são usados em dúvidas diagnósticas ou para outras indicações.
10) A aplicação deixa cicatriz?
Não. É uma injeção, sem corte. Pode haver hematoma discreto e dor local passageira.
11) Posso praticar esportes?
É preciso evitar exercícios por 24 horas
Considerações Finais
A toxina botulínica para fissura anal oferece um caminho minimamente invasivo, reversível e seguro para quebrar o ciclo dor–espasmo–isquemia que impede a cicatrização. Sua maior força está na redução do tônus com baixo risco de incontinência, preservando a anatomia. Embora a esfinterotomia ainda seja o padrão-ouro para casos muito refratários, a toxina amplia as opções e permite uma abordagem personalizada, especialmente útil em mulheres jovens, puérperas, pessoas com risco de incontinência e pacientes que valorizam alternativas ambulatoriais. O sucesso depende de seleção clínica adequada, técnica precisa e hábito intestinal saudável mantido a longo prazo.
Fontes Externas Consultadas
- Sociedade Americana de Cirurgiões de Cólon e Reto (ASCRS). Diretrizes de prática clínica para fissura anal (últimas atualizações e revisões até 2024/2025).
- Cochrane Database of Systematic Reviews. Botulinum toxin for chronic anal fissure: systematic reviews e metanálises comparando toxina, pomadas e ELI.
- Altomare DF, Giuratrabocchetta S, et al. Randomized clinical trials comparing botulinum toxin vs lateral internal sphincterotomy and vs topical therapies.
- Maria G, Brisinda G, Bentivoglio AR, et al. Botulinum toxin for chronic anal fissure: early RCTs e seguimentos de longo prazo em coloproctologia.
- Revisões recentes (2018–2024) em Diseases of the Colon & Rectum, Techniques in Coloproctology, Colorectal Disease sobre eficácia, dose e perfis de segurança da toxina botulínica na fissura crônica.

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Sou Dra. Clarisse Casali, Proctologista do Rio de Janeiro (Sociedade Brasileira de Proctologia), Especialista em Saúde do Intestino. Residência médica em coloproctologia HFCF/Min.Saúde. Especialista em Saúde do Ânus. Pós-graduação pelo Hospital Albert Einstein – SP. Especialista no tratamento de Hemorroidas, Especialista em colposcopia anal – American Society of Cervical Patology⚕️.
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